A arte desse disco é resultado da somatória de muitas imagens afetivas que navegam em minha memória. Esse disco foi nomeado após um dia de chuva torrencial em Thessaloniki (Grécia), quando a rua onde o grupo do Juliano estava ensaiando virou um grande rio. Ao ver aquela cena forte pela janela, ele recordou das águas tropicais, das chuvas torrenciais, das enchentes de nossa cidade paulistana. E foi ao sair de seu local de ensaio, que descobriu o nome da rua: Amazonon, um signo muito forte para o Brasil e para a Grécia. Para nós pela nossa tão cara Amazônia, e para eles pelo mito grego das mulheres amazonas.
Logo após o Juliano me contar esse relato, me lembrei de uma de nossas viagens: quando demoramos 12h para percorrer 200km na calha norte do rio Amazonas. Estávamos em Oriximiná e queríamos chegar em Alenquer. Era inverno no Pará e saímos às 5h da manhã no único transporte do dia e foi nesse dia que presenciei uma das maiores chuvas da minha vida. O ônibus não tinha nenhuma condição de passar pela estrada de terra, então ficamos algumas horas esperando poder andar mais um pouco. Diferente de nós, percebemos que os moradores estavam acostumados com aquela situação.
Metade dos assentos daquele ônibus havia sido arrancada para caber, aparentemente, sacolas e sacolas de mercado cheias de comida. Estávamos, portanto, num ônibus que também tinha a função e a responsabilidade de distribuir alimento para as comunidades próximas. Ele ia parando de comunidade em comunidade e os moradores da região se aproximavam para pegar suas compras, sempre agradecendo o motorista. No fim, por consequência daquela chuva, não conseguimos chegar em Alenquer e fomos convidados pelo próprio motorista a dormir em sua casa numa pequena comunidade.
Em minha memória e nas fotos é visível que os dias chuvosos que passamos juntos no Pará tinham cores específicas: o azul queimado do céu, o chão marrom de terra molhada, o verde escuro daquela vegetação grande. Fiquei imaginando nas nossas conversas sobre o projeto gráfico que o disco tinha que trazer essas cores simbólicas e tão afetivas, como o movimento contínuo das águas que só vão.
Por se tratar de um disco com nítidas referências à música grega, mas sendo de um brasileiro, queria utilizar as letras do alfabeto grego, porém sem fazer um uso de uma estética que não é nossa.
Ao fazer alguns testes com o nome Αμαζόνων (Amazonon) percebi que o que mais fazia sentido seria usar a tipografia como imagem sem tirar a leitura da palavra grega, mas também se preocupando em fazer sentido para os olhos daqueles que não compreendem essa escrita. Criei uma estampa que com sua repetição potencialmente infinita faz sentido como uma massa visual, e cria uma textura.
Com estes elementos (cor, tipografia, estampa, textura) chegamos numa capa fiel às sensações do Juliano e às minhas. Acho que ela carrega as sutilezas afetivas do som que tem as cordas acústicas como elemento principal, como também simboliza os timbres e escalas não tão usuais para os ouvidos brasileiros. Recria o nome, com certa estranheza e provocação, mas com toda a sensibilidade das composições do Juliano, alaudista, brasileiro, pesquisador de música grega.