a melhor saída dora morelenbaum | 2025

artwork, direção

O videoclipe A Melhor Saída, de Dora Morelenbaum, dirigido por Maria Cau Levy e Caio Mazzilli, combina captação digital e experimentação analógica para criar uma estética visual única. Filmado no centro de São Paulo, o clipe acompanha a artista em deslocamento e usa enquadramentos dinâmicos e luz natural para reforçar a interação entre corpo e espaço. A direção de fotografia prioriza planos médios e abertos, o que enfatiza a relação entre a figura da cantora e a paisagem urbana em constante fluxo.

Na pós-produção, cada frame passou pelo processo de risografia, com impressão em azul, vermelho e amarelo, criando variações e texturas que rompem com a fluidez digital. A Meli-Melo Press executou essa etapa, preservando a granulação, os desalinhamentos e as sobreposições de tinta ao escanear e remontar as imagens digitalmente. O efeito visual resultante traduz a interseção entre o orgânico e o sintético, em sintonia com a sonoridade híbrida do álbum Pique.

Mais do que um videoclipe convencional, A Melhor Saída se destaca pela experimentação gráfica e pela materialidade da imagem. O processo de degradação e reconstrução visual se torna essencial para a narrativa e amplia a sensação de deslocamento presente na música. A direção de Levy e Mazzilli une tecnologia e gesto artesanal, criando uma linguagem audiovisual que desafia as convenções da produção contemporânea de videoclipes.

O clipe existe como obra impressa, a vídeo-impressão. Todos os frames do vídeo são traduzidos para 120 folhas A4 em risografia. Esse conjunto total já foi exibido no Solar dos Abacaxis (Rio de Janeiro) e na Rádio Agulha (Porto Alegre), expandindo a experiência do videoclipe para além da tela.

The music video A Melhor Saída, by Dora Morelenbaum, directed by Maria Cau Levy and Caio Mazzilli, combines digital capture and analog experimentation to create a unique visual aesthetic. Filmed in the center of São Paulo, the clip follows the artist as she moves and uses dynamic framing and natural light to reinforce the interaction between body and space. The direction of photography prioritizes medium and wide shots, which emphasizes the relationship between the figure of the singer and the urban landscape in constant flux.

In post-production, each frame underwent a risography process, printed in blue, red and yellow, creating variations and textures that break with the digital fluidity. Meli-Melo Press carried out this stage, preserving the grain, misalignments and overlaps of ink when scanning and reassembling the images digitally. The resulting visual effect translates the intersection between the organic and the synthetic, in tune with the hybrid sound of the Pique album.

More than a conventional music video, A Melhor Saída stands out for its graphic experimentation and the materiality of the image. The process of visual degradation and reconstruction becomes essential to the narrative and amplifies the sense of displacement present in the song. Levy and Mazzilli’s direction combines technology and artisanal gesture, creating an audiovisual language that challenges the conventions of contemporary music video production.

The clip exists as a printed work, a video print. Every frame of the video is translated onto 120 A4 sheets of risograph paper. This total set has already been shown at Solar dos Abacaxis (Rio de Janeiro) and Rádio Agulha (Porto Alegre), expanding the music video experience beyond the screen.

 

 

Texto
Mariana Meneguetti

O clipe de A melhor saída
nos arrebata com uma Vídeo-Impressão incomum entre os caminhos do digital e do analógico a partir de uma transposição experimental de mídias.

O som se materializa em cores, luzes, grãos, abstrações e movimentos velozes de uma cidade em curso. A personagem vive na pausa, na observação do cotidiano, enquanto esse cotidiano segue desenfreado, fugaz, intenso e alheio ao que acontece ao redor. Por vezes a cidade com seus ônibus lotados, ou a insensatez de um trânsito, se desmaterializam em abstratas manchas de luz, coloridas, vibrantes, preenchendo o espaço lúdico da tela. Grão e pixel são revelados na sua pequenez expansiva, tomando a grande tela na sua potente característica de unir diferentes tons.

A técnica de risografia escolhida para impressão dos frames do vídeo vai à contramão de um tempo de imagens superexpostas com filtros digitais a um só clique. Fotografado digitalmente para depois ser impresso artesanalmente, o clipe consiste na impressão única de dez frames por página, em um total de cento e vinte páginas, resultando mil e duzentos frames digitalizados e condensados em pouco menos de 5 minutos de vídeo.

Mesmo que o clipe enfatize a repetição das ações do cotidiano, ele materializa um processo complexo para justapor sensações múltiplas, entre a pausa e o movimento, a monotonia e a vibração, o acaso e o imprevisto. O que poderia ser lido como uma falha do frame, por exemplo, é, em sua potência, o que permite o ritmar e o desritmar do grão, o ritmar e o desritmar dos tons, possibilitando a deriva na cidade pelo devaneio visual, a partir do caminhar dos pontos na tela. O azul, o vermelho, o amarelo e demais matizes destas misturas surgem como uma folia cromática, mesmo que dentro da cidade monocórdica.

O clipe se forma, em sua melhor saída, para além de uma estrada que nos leva a algum lugar. Se forma também na ausência de direção, no delírio dos tons, nos devaneios abstratos, no hiato da técnica. É esta experimentação do processo que faz dançar cada grão do papel acompanhado do caminhar rubro, iluminado e imanente da cantora e na materialização pictórica de sua voz.

 

Direção direction: Maria Cau Levy e Caio Mazzilli
Impressão Print: Meli Melo Press
Produção Production: Estúdio M–CAU e Lusco Fusco
Assistência assistance: Giovana Tak